Por Luiz Felippe Medeiros Nogueira*
Hoje é o dia mundial da Alimentação. Tendo início em 1981, a data é celebrada em mais de 150 países, visando conscientizar governos, organizações e empresas sobre questões de alimentação e nutrição. A FAO (Food and Agriculture Organization – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) trabalha essas questões através de conferências por todo o mundo e tem como objetivo promover essa conscientização, além de arrecadar fundos para projetos e divulgação dos mesmos. E 2014 foi instituído como Ano Internacional da Agricultura Familiar, com o tema “Preço dos Alimentos – da Crise à Estabilidade”.
Como falar em alimentos no Brasil sem abordar um pouco a grandeza do nosso território? Com uma grande base agrícola, o Brasil avançou bastante na questão da nutrição e de alimentos de uns anos para cá. O conhecimento foi levado para diversas regiões, desde áreas totalmente industrializadas até os lugares mais subsistenciais, tornando a população ciente dos benefícios dos alimentos e de suas facilidades para o comércio e geração de renda. Hoje, a cultura de alimentos que eram tratados apenas como familiares e não tinham muito espaço cresceu, dando espaço a novos produtores.
É esse o caso das comunidades ribeirinhas espalhadas pelas regiões amazônicas. Através de projetos de especialização, a exemplo do Programa Carbono Neutro, encabeçado pelo Idesam, a população da RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Uatumã vem absorvendo a ideia da produção sustentável de alimentos. A parceria entre o Idesam e as comunidades ribeirinhas teve bastante sucesso com a implantação dos SAFs (sistemas agroflorestais). A ideia de trabalhar com plantação de mudas para extração futura (açaí, castanha-do-pará, café), alternada com colheitas de curto prazo (maracujá, guaraná, banana), agradou bastante as comunidades, vendo nos SAFs uma nova possibilidade para geração de renda e sustento familiar.
Esse crescimento e as novas informações inseridas no contexto da RDS trouxeram grandes mudanças que poderão possibilitar um pleno desenvolvimento das comunidades. Tempo e dinheiro que até então eram dispensados à monocultura estão sendo aos poucos transferidos para os SAFs. O aprimoramento técnico de estilos de plantação, colheita e armazenamento gera possibilidades de trabalhar em breve com grandes indústrias no fornecimento de matérias primas para produção. Isso tem potencial para aumentar o investimento externo nessas áreas, trazendo benefícios para toda uma população. Sem deixar de lado o benefício gerado para a produção e comercialização dos produtos beneficiados, os quais, com a redução nas perdas, aumento do volume de colheita e minimização de custos, passam a ter uma diminuição do seu preço de venda ao consumidor final.
Além desses benefícios, o conhecimento gerado influencia diretamente em questões de saúde, pois o trabalho das comunidades no fornecimento para as indústrias atende a uma demanda importante, que é a segurança alimentar, promovida principalmente por uma produção orgânica ou com baixos níveis no uso de produtos químicos.
Como próximos passos, é preciso pensar em projetos de beneficiamento dos produtos agroextrativistas nas proximidades dos locais de colheita/produção, como forma de potencializar a relação das comunidades com o comércio externo. Alguns bons exemplos são a criação da usina de beneficiamento Chico Mendes, em Xapuri (PA), o projeto de implantação da Cooperativa Mista Extrativista dos Quilombolas, em Oriximiná (PA), e miniusinas espalhadas por toda a extensão amazônica. Nesse locais, os investimentos estão sendo feitos e já colhe-se os “frutos” com produtos, especialização e capacitação humana.
Porém a batalha continua. Não basta apenas criar planos de manejo e promover conscientização sem garantir às famílias o acesso aos recursos naturais e ao uso deles. Os alimentos ainda são grande foco de discussões por todo o mundo, e continuarão sendo. Não basta trabalhar apenas com uma pequena parte da sociedade e suas necessidades imediatas. Temos que expandir o conhecimento e trabalhar em conjunto com aqueles que realmente precisam de apoio. E saber extrair da terra o que ela tem de melhor, de maneira sustentável e com consciência, entendendo que os focos de hoje não podem ser esquecidos amanhã.
*Luiz Felippe Medeiros Nogueira é engenheiro de Alimentos pela Universidade de Campinas (Unicamp) e trabalhou como voluntário no Idesam entre janeiro e março de 2014, onde desenvolveu atividades de capacitação em comunidades ribeirinhas da RDS do Uatumã (AM).